Ricardo
Gazzinelli, chefe do Laboratório
De
Imunopatologia da Fiocruz Minas
(Foto: Divulgação) |
Também há estudos com mosquitos infectados por fungos transgênicos
“É bastante inovador, porém os testes ainda são muito preliminares e não sabemos qual será a aplicação desta técnica. Por outro lado, o uso de vírus e proteínas recombinantes já são formas mais estabelecidas de vacinação e apresentam um grande potencial de funcionarem como vacinas para humanos”, comenta Ricardo Gazzinelli, doutor em Bioquímica e Imunologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e chefe do Laboratório de Imunopatologia da Fiocruz Minas (Laim/Fiocruz Minas/Fiocruz).
Dr. Ricardo Gazzinelli, bolsista de Produtividade em Pesquisa 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), estuda o papel do sistema imunológico na patogênese da infecção (ou seja, o mecanismo da doença). Além disso, trabalha no desenvolvimento de uma vacina contra a malária causada por P. vivax, uma das duas principais causas da malária. O P. falciparum predomina na África e é mais letal. O P. vivax está na América Latina e Ásia e, se não tratado, pode causar doença grave e morte. No Brasil, cerca de 80% dos casos de malária são causados pelo P. vivax
“Esta é uma vacina que utiliza proteínas recombinantes e vetores virais expressando proteínas deste parasita e está sendo testada. Além disto, consideramos que, durante a malária, ocorre uma ativação exagerada do sistema imune, que é a causa de muitos dos sintomas durante esta infecção. Com isto em mente, tentamos entender este processo, para que possamos prevenir a doença interferindo com um sistema imune”, explica Ricardo Gazzinelli.
Ainda não há previsão nem de ser provada a possibilidade de prevenção através de fungos transgênicos nem da vacina em teste na Fiocruz Minas ser lançada para a prevenção:
Vacina contra malária já está em fase de testes clínicos (Foto: Divulgação) |
“Difícil fazer esta previsão. No caso da malária com P. falciparum, tem uma vacina produzida pela GlaxoSmithKline (GSK) que está sendo testada em humanos, na África, e vem apresentando resultados animadores. Se tudo der certo, talvez tenhamos uma vacina comercial para malária em um horizonte de três a cinco anos”.
Isso se houver interesse da comunidade científica mundial ou de empresas farmacêuticas, acusadas por muitos anos de negligenciar doenças como a malária. Se algo der errado, a sugestão é dar atenção aos avanços da biologia molecular. Com eles, o interesse no estudo dessas doenças deve estimular a retomada de financiamentos para as pesquisas. A avaliação é de Laura Rodrigues, professora de epidemiologia de doenças infecciosas e chefe da Faculdade de Epidemiologia e Saúde da População da London School of Hygiene and Tropical Medicine, que deu entrevista à Agência FAPESP. Para Ricardo Gazzinelli, a biologia molecular é uma área que revolucionou a pesquisa na área biomédica. Ele acredita também que o interesse econômico em vacinas vem aumentando:
“Isto é verdade também no caso da malária, porque permitiu o maior entendimento da biologia do parasita, a interação parasita/hospedeiro, assim como o desenvolvimento de métodos de controle, como por exemplo, vacinas e geração de mosquitos refratários a infecção com Plasmodium. Como a malária, entre outras, é uma doença de pobres, que não possuem recursos para adquirir medicamentos, o interesse ecônomico é pequeno. Mas esta tendência está mudando. As empresas que passam a trabalhar com estas doenças negligenciadas têm uma série de benefícios. Em segundo lugar, o poder aquisitivo dos países do terceiro mundo está aumentando e, como doenças como a malária afetam o setor produtivo e acarreta perdas econômicas grandes, acredita-se que os governos dos países afetados poderiam subsidiar as campanhas de vacinação pública contra estas doenças.”
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