O cooperativismo cresceu muito no Brasil nos últimos anos, mas ainda está longe de atingir os indicadores dos países mais desenvolvidos, onde 40% da população estão ligados a cooperativas. A conclusão é do senador Acir Gurgacz (PDT-RO), que presidiu na tarde desta sexta-feira (15) o 13º seminário do ciclo de palestras da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), em Ji-Paraná (RO).
De acordo com Gurgacz, o estado do Paraná é um exemplo de sucesso das cooperativas agrárias, que são responsáveis por 56% da economia agrícola local e faturam cerca de R$ 30 bilhões ao ano. Mas, na avaliação do senador, o Brasil ainda tem um longo caminho para reunir produtores em associações e cooperativas – importantes instrumentos de difusão de políticas de combate a pragas, de acesso ao crédito rural e de comercialização.
- O cooperativismo valoriza o homem, a família, o povo. Valoriza o ser humano como portador de conhecimento, autonomia, voz e voto na tomada de decisões. O associado é um agente ativo no mercado interno e externo, e também nas ações sociais da comunidade.
Na audiência, Gurgacz cobrou dos governos federal, estaduais e municipais “uma atenção mais cuidadosa” às cooperativas. Ele afirmou que frente à concentração da produção e do comércio de alimentos nas mãos de grandes conglomerados internacionais, o associativismo e cooperativismo são alternativas de sobrevivência e de manutenção da competitividade para os pequenos produtores e para a agricultura familiar.
- A cooperação é o melhor caminho para a competição de um mercado globalizado e é com ela que se acabará com a pobreza extrema do país. O fortalecimento da agricultura familiar promoverá o desenvolvimento regional – disse o senador por Rondônia, que definiu os princípios da administração das cooperativas como democráticos e voltados ao lucro, à geração de renda e ao crescimento.
Experiência
Convidado ao seminário para falar da experiência de sucesso das cooperativas paranaenses, o superintendente do Sindicato de Organizações das Cooperativas do Estado do Paraná, José Roberto Ricken, destacou que as cooperativas devem ter estatuto formal, organização desde a base, integração dos interesses de cada membro, participação das famílias e preocupação em agregar valores aos produtos.
- A cooperativa precisa encontrar seus espaços dentro da economia. Hoje os principais parques agroindustriais do Paraná são invariavelmente de cooperativas.
Ricken contou que há 590 mil associados em cooperativas e 1,4 milhão de postos de trabalho direto e indireto nesse sistema de gestão em cooperativas, que representam 18% da economia do estado.
Acesso ao crédito
O ex-senador Osmar Dias, vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, lembrou no encontro que, dos 16 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, 47% estão no campo. Segundo ele, apesar de o agronegócio brasileiro viver um bom momento, apenas 5% dos produtores estão enquadrados nas classes A e B de renda, enquanto 15% pertencem à classe C e 80% abaixo disso, ganhando menos de dois salários mínimos mensais.
Ele adiantou que está para ser criado um novo tipo de crédito rural no Banco do Brasil, menos burocrático, rotativo, automático e renovável. Também contou que, por causa dos debates nas cooperativas, o Banco do Brasil implantou o seguro de renda, que remunera o produtor quanto aos riscos climáticos e também aos riscos de mercado.
- O seguro trava o preço no dia 30 de maio e o produtor calcula quanto ganharia, tendo, com o seguro, 70% do seu faturamento garantido. Se der certo para a soja, nós vamos ampliar para outras culturas. E eu tenho certeza que vai dar certo.
Osmar Dias disse que as cooperativas devem se preocupar em produzir emitindo pouco carbono. E destacou que há incentivos financeiros para quem compra a ideia:
- Não existe, tirando a agricultura familiar, um crédito tão bom quanto esse: nós estamos fornecendo crédito com custo de 5,5% [de juros] ao ano para que o produtor possa recuperar pastagens degradadas. Nós temos 120 milhões de hectares de pastagens degradadas no país que podem ser recuperados e incorporados para aumentar a produtividade de carne e leite, ou para melhorar a produção de grãos.
Rondônia
Salatiel Rodrigues de Souza, presidente do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de Rondônia, disse que atualmente há quase 150 cooperativas em Rondônia, que atendem 40 mil cooperados, ou 100 mil famílias. Ele contou que existe um movimento em Rondônia para que as cooperativas se unam e para que jovens ingressem nesse tipo de associação.
- Um estado que circula seus recursos entre as cooperativas é um estado promissor – sintetizou.
Também participaram do debate o secretário de Agricultura de Rondônia, Anselmo de Jesus; o secretário-adjunto de Agricultura, Antônio Deusemínio; e Nilton Cezar Rios, presidente da Câmara de Vereadores de Ji-Paraná.